segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O Vendedor de Berimbau / Pátio de São Pedro, Recife - PE

Chico Pedrosa a voz da poesia

Por José Honório da Silva

Eu deveria saber, porém não lembro como descobri Chico Pedrosa. Suspeito que foi vendo-o declamar “O Abilolado” ou “Presepada de Menino” em um daqueles memoráveis congressos de cantadores de Olinda, organizados por Guiuseppe Baccaro. Mas isso não importa. O que importa é que há mais de vinte anos ele é para mim um dos mais representativos ícones da poesia popular nordestina, com toda amplitude que essa expressão possa ter, como grande guarda-chuva que abriga o repente, o cordel, o aboio, o samba e marcha de maracatu, a poesia matuta, etc.

Porque Chico Pedrosa é múltiplo. Contou-me que se lançou na poesia em 1959, aos 18 anos, com um cordel um tanto autobiográfico, narrando as desventuras do nordestino no Centro-Oeste; envereda pela poesia matuta consagrada por Zé da Luz, Zé Praxedes, Zé Laurentino e outros tantos (nem todos Zés, mas também Catulos, Raudênios, Jessieres e Dedés); vai também de sonetos (inclusive no estilo de Augusto dos Anjos) e outras formas poéticas. Faz tudo isso com tanta propriedade que se torna difícil enquadrá-lo em uma ou outra vertente. Por isso sintetizo: Chico Pedrosa é poeta. Isso me basta. É um poeta da voz. Voz que se alicerça e se projeta no corpo. Seus versos podem nos chegar via folheto, livro ou CD, mas é ao vivo, com sua performance, que Chico Pedrosa se mostra na sua plenitude de poeta que encanta e emociona.

Como depõe Aleixo Leite Filho, “sua poesia tem cheiro de suor, gosto de lágrima e quentura de perfume das caboclas sertanejas. Tem a angústia dos injustiçados; o verniz da vegetação molhada e o cinzento opaco das caatingas; o cheiro do curral, bem cedinho, e a ardentia do sol de verão. E, mais do que isso, a alma escancarada do nordestino quando confia”.

Não bastasse o talento criativo e o carisma declamatório, Chico Pedrosa é guardião de uma alma assim, escancarada, amável e amiga, acolhedora e solícita. É sempre uma grande alegria pra nós que fazemos a União dos Cordelistas de Pernambuco-Unicordel quando temos a presença física desse mestre em nossos recitais (porque ele sempre está conosco), trazendo sua luz e sua bênção.

Salve Chico Pedrosa! Salve a Poesia!

*JOSÉ HONÓRIO é poeta e um dos fundadores da UNICORDEL
ledroc_pe@yahoo.com.br

Compilação do site interpoética: http://www.interpoetica.com/rede16.htm

Apresentação do CD Paisagem Sertaneja

Chico Pedrosa não se limita e nem se contenta em transmitir para o público apenas uma visão romântica dos motivos escolhidos por ele para de firmar como um dos poetas mais importantes e respeitados, quando o assunto gira em torno da Poesia Popular Nordestina.
Longe de Chico a idéia de um nordeste exótico, caricatural. A sua poesia não é apenas descritiva, ela encarna o sentimento e a fisionomia de um povo que luta, sofre, ri, chora, e sobrevive com dignidade e bravura, apesar das condições adversas, recheadas de contradições estruturais da política econômica e social da região.
Narrador da infância lúdica, simples, do carrossel do pátio da Igreja da Matriz, do patriotismo do guarda noturno, do sentimento do nosso cancioneiro popular, das investidas de “João Grilo” e “Pedro Malazarte”, são personagens que convivem e inspiram o processo criativo do autor, que compõe, interpreta, materializa e espanta os seus fantasmas.
Parabéns por mais um trabalho na praça.

Ésio Rafael, pesquisador de poesia popular - Recife, Setembro de 2003.

Chico Pedrosa contador de histórias

O barco e o charco